terça-feira, 4 de março de 2008


Este pode muito bem ser o primeiro dia do resto da minha vida.


existem dias em que somos todos metástases uns dos outros,

lesões demasiado grandes dentro do peito,

não pode existir terra permeável para suster o tamanho dos nossos frutos,

ou luz bastante para aquecer o coração das nossas raízes

nascem dias em que todos somos mães e sentimos o dilúvio

dos frutos e a debandada das sementes;

se um dia tiveres frio vais procurar nos meus olhos os vestígios

do sol, aquecer-te no pressuposto das nossas raízes.

sentirás o ar entre nós e o cordão umbilical que nos aproxima.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Liberdades 3

esta tem de ser uma das melhores representações do que um filho pode e deve ser no pequeno mundo que existe para lá do nosso corpo. numa altura em que a filha do Zé Rui sente as primeiras lufadas de caminho não consigo esconder a gritante necessidade do abraço de demasiada gente, não consigo reprimir o pó debaixo dos meus pés, pó de caminho.

domingo, 25 de novembro de 2007

Liberdades 2





















ninguém te deu um nome ou uma face,
nunca ninguém terá a pretensão de te saber de cor.
mas ama quem precisa de ti como de ar nos pulmões.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Liberdades 1
















mesmo que a queira e deseje toma-a
amo-a ainda mais.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007


não parti a caminho, nem consegui explodir e perder as palavras contidas no centro da praça de todos. a última vez que me vi a caminho ia debilitado fisicamente. sinto-me, por agora, debilitado sentimentalmente, não me doem os pés, nem tenho bolhas do caminho mas o coração está apertado e nem eu nem ninguém me pode dar ar se eu não o quiser.

- recuso-me a não querer ar.

- recuso-me a ter mais pés que coração.

- recuso-me a abandonar as asas que deus me deu.

- recuso-me a dizer o que deve ser dito, recuso-me ainda mais a não dizer o que não deve ser dito

- recuso-me a ter medo do meu caminho, por mais escuro, estreito, difícil que ele seja

- recuso-me a ter medo de escutar demasiado perto o coração de quem me ama

segunda-feira, 30 de julho de 2007

...


É com um profundo sentimento de confissão que me encontro sempre que actualizo de um modo mais ou menos inteligível este blog. O teorema da escrita pode depender do tempo de inspiração ou de outro força divina; agora o teorema da partilha obriga naturalmente a uma maturação do que realmente pode e deve ser dito.

por estes dias descanso profundamente com ar de dever cumprido, alguém me dizia: finalmente de férias... sinto já o pequeno burburinho de preocupações de duvidas e pequenos abalos que se avizinham, crescemos muitas vezes sem notar e de repente sem ninguém nos avisar as nossas prioridades deixam de ser as birras e os pequenos desejos de miúdo, somos lançados demasiado rápido ao rio como peixe que ainda não sabe nadar. ninguém nos ensina o ofício de viver nem de viver como prenúncio de morrer, não nos dão ferramentas apenas um coração e umas asas pequenas para voar.










o meu pai anda atarefado com a casa nova; a ana diz-me que me ama; fui à Póvoa, e nem cheiro a maresia ou a beleza das pessoas que vivem do mar e para o mar se perdeu; adormeci na praia e apanhei um escaldão a senhora minha mãe diz-me que não pôs protector, nem ela nem eu percebemos que somos pequenos caminhos de pedras banhados por uma outra luz.

domingo, 8 de julho de 2007

geometrias

descobrimos por vezes membros espalhados por dentro de nós,
alguns são nossos como espaços pequenos onde mais ninguém pode chegar,
espaços por dentro das garagens e das estantes,
do alabastro ou do granito.
outros são sinais para caminhos distantes de peregrinos
que erram para dentro de nós; ou são metas demasiado profundas
para escavarmos ou a dor inerente a eles, está ainda incrustada para lá do nosso corpo

ninguém me disse que o barulho do meu peito vem do coração
nem lhe pus as mãos, os olhos ou a boca para saber a sua forma
para saber que rumos havia a dentro da minha pele
temo pelo ruído que parece do meu corpo, pelo grito demasiado distante para lhe perceber a dor ou o jubilo.

ninguém me disse, ainda, que por vezes
estamos demasiado perto de outros corações ou que escavamos
demasiado fundo no corpo de alguém,
temo. tenho medo de acabar com a mão no meu coração perdido
no espaço preciso entre quem me escuta ou quem me toca